pensando o biopoema
poesia viva:::vivo:::como:::poesia
o que podemos entender por biopoema transgênico?

desvio ruído/quebra/erro/acaso/ruptura
inesperado/ imprevisto/original
CONTEXTO
BIOPOEMAS
DESVIO NA POESIA
DESVIO NA BIOLOGIA
“a linguagem é um ser vivo”

"o significado é um signo aberto quandonde a vida vive"

Décio Pignatari


- Movimento biohacker e biopunk e a popularização biotencológica;

- Pesquisas com o editor CRISPR-Cas9 (2012), Aplicação humana (2015);

- Ideia de DNA como mídia e arquivo (Harvard, 2012);

- DNA como informação digital (DAVIES, 2005);

- Biologia entendida como ciência da informação;

- Biotecnologia como escrita (HARAWAY, 2009);

- Bioartistas e artistas transgênicos como Quinn Davis, Critical Art Essemble, Martha de Menezes, Eduardo Kac (Polêmica da coelhinha ALBA, 2001);

- Biotecnologia e literatura: Kurt Weil e James Joyce;

- Biotecnologia e poesia: Christian Bök e Eduardo Kac.
" A nova “arte do viver” nos torna capazes de nos tornarmos criativos não apenas no sentido metafórico, mas no sentido literal"

Vilém Flusser
novo ars vivendi
d. haraway
biotech como escrita
Vilém Flusser

- mutação da conversação: criação de novas informações.

- "esfôrço do intelecto em conversação de criar língua" (1963).

- "qualquer fonte da qual a língua sempre nasce renovada, e precisamente, quem quaisquer literaturas, ou seja, também nos textos científicos, filosóficos e políticos, e não apenas ‘poéticos’” (2010).

- “fazer poesia é a produção de modelos de experiências” .

- poesia como criação de linguagem e como programador, modelador, prepositor, organizador. não mais como autor. novo poeta não mais intuitivo mas informador. o poeta calculador deixa as regras do jogo ao acaso da permutação, seu foco é a computação do acaso.

- poesia como jogo de linguagem. ruídos. "se vocês já fizeram uma obra de arte, pegaram o acaso e jogaram contra ele" (2015). desvio de Serres, margem de erro.

E.M. de Castro e Melo: poesia como ruído.

Haroldo de Campos: o papel do poeta é o de um “configurador de mensagens”.

Pignatari: poeta como um designer da linguagem.

Haroldo de Campos continua no pensamento de Jakobson. Para ele: “o que caracteriza a função poética é, assim, um uso inovador, imprevisto, inusitado das possibilidades do código da língua” (CAMPOS, 1975, 145).
DESVIO COMO MUTAÇÃO

- Vida: 1 Autoreplicação, 2 Mutação – sem a qual a informação é “inalterável” e portanto não pode sequer emergir e 3 Metabolismo (EIGEN, 1997).

- Evolução: Seleção e Reprodução.

- Mutação como essencial a complexidade, as vias de seleção.

- Muitos erros são considerados uma desvantagem, mas alguns podem representar até um aperfeiçoamento, permitindo ao gene funcionar de maneira mais eficaz. Precisamos dele para que a seleção natural funcione. Assim, as mutações – como se chamam estes erros genéticos – são necessárias, desde que não sejam demasiadas. (CRICK, 1998, p. 50).
DESVIO COMO GESTO LÚDICO

- MASSUMI (2017): seleção não pelo instinto mas pela criatividade. Seleção não só como adaptação mas como qualidade de experiência.

- gesto lúdico, brincadeira animal, jogo, gesto vital. arte do viver. rendimento estético. brincadeira como criação. brincadeira como origem de variação.
Arte Transgênica: "uma nova arte baseada no uso de técnicas de engenharia genética para criar seres vivos únicos" (KAC, 2013).

Pode ser conseguido por meio de transferência de genes sintéticos para um organismo, mediante a mutação dos genes nele, ou pela transferência natural de uma espécie a outra.
Bioarte: Arte que manipula os processos da vida.
Mediapoetry: A a biopoesia se apresenta relacionado ao capítulo de poéticas multimídias, juntamente com a holopoesia, que se utiliza da holografia, e a poética de recombinação, e a videopoesia.
Biopoesia: Agora, em um mundo de clones, quimeras, criativas transgênicas, é hora de considerar novas direções para a poesia in vivo. Abaixo, proponho o uso da biotecnologia e dos organismos vivos na poesia como um novo domínio da criação verbal, paraverbal e não-verbal. (KAC, 2007, p. 191). (Tradução livre).
Biopoema transgênico: Sintetizar DNA de acordo com códigos criados para escrever palavras e frases usando combinações de nucleotídeos. Incorpora essas palavras e frases de DNA no genoma de seres vivos, que então as transmitem para seus descendentes, combinando palavras com outros organismos. Através de mutação, perda natural e troca de material genético, novas palavras e frases vão surgir. Ler o transpoema de volta através do sequenciamento de DNA.

Biopoema Xenográfico: Transplantar um texto vivo de um organismo para outro e vice-versa, como uma forma de criar uma tatuagem in vivo. (Tradução livre).
Lista completa de biopoesia
poesia concreta/ poesia experimental/ holopoesia/ videopoesia/ poesia digital/ media poetry/ biopoesia
“Escrevendo genomas fluentemente, como Blake e Byron escreveram versos, o que pode criar uma abundância de novas flores, frutas, árvores e pássaros, enriquecendo a ecologia de nosso planeta” (DYSON, 2015, p. 141). (Tradução livre).

Contudo, ao pensarmos a necessidade da mutação na biologia, em um nível aceitável par ao sistema, estamos aqui nos dedicando a perceber o que podemos compreender por desvio nesta área.

Sabemos que a mutação é necessária para a vida existir, para a novidade aparecer, novas informações surgirem, é a re-escritura, ruptura do código. A mutação, seu funcionamento e a presença de um grau de acaso e aleatoriedade, é também uma poética do desvio do próprio campo da biologia. Um modo de ação que age pela criação, pela ruptura do código e de sua meta de perpetuação idêntica. Como nos mostra Massumi, a novidade também pode vir da espontaneidade, a seleção também pode se dar por criação constante. Em um nível macroscópico, político, relacional, o signo da mutação de forma metafórica encontra o gesto lúdico, o gesto vital, também unidos por buscas desviantes. O desvio parece ser o lugar o encontro das diferenças, da construção da animalidade, da seleção pela estética, poesia, jogo, brincadeira.
Sobre o artista
Sobre o biopoema Gênesis (1999)
Outros biopoemas

Pelo pensamento de Crick e Eagen, vimos o desvio na biologia, percebendo como a mutação é essencial para a criação de novidades, características que no processo evolutivo (em certas doses) garante a vida de progredir. Por Massumi, a importância da criatividade para a vida. Na comunicação podemos a pensar o desvio como o ruído. Na linguagem, por meio da leitura de Flusser e Campos, pensamos a poesia como desvio, pelo seu poder de transformar o código e aumentar o repertorio criativo. Flusser pensa a matéria viva como gotas informativas que se dividem e transmitem informações aos sucessores. Contudo nesse processo, as mutações ocorrem, e a evolução da vida “trata-se de processo estupidamente cego” (FLUSSER, 1998, p. 84). Na nova informação surge pelo acaso, pelo método de erro. Aqui está um ponto central em um esboço da poética do desvio. A dependência criativa da mutabilidade, da mudança inesperada das informações armazenadas em códigos, códigos na definição flusseriana como “um conjunto de símbolos ordenados em um sistema” (1998, p. 131), no caso, pensando em informação genética, de qual descenderíamos todos de “variações de uma única informação base” (1998, p. 85). Na microbiologia evolutiva, a poética do desvio se faz presente por necessidade, não deixando trocar semelhanças com a poesia.
Lista completa de biopoesia